O direito do dever

Sofia T
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O dia 1 de Outubro está perto. Falta cerca de uma semana para que possamos exercer o nosso direito de voto

No artigo de opinião de Maria José Vitorino, publicado no dia 13 deste mês, percebemos que nem sempre Votar esteve ao alcance de todos. José Gabriel Quaresma falou-nos d’ A Última Vez que votará para as eleições autárquicas no concelho de Vila Franca de Xira e no que é importante para ele quando exerce o seu direito de voto. Mas não nos falou só nisso…

Neste texto, José Gabriel Quaresma diz-nos: “Votar numa eleição autárquica é o contributo mais importante que qualquer um pode dar à sua terra. Votar num nome, num rosto, num projecto”. Pego nesta frase para lançar a seguinte questão: Votar não é, essencialmente, um dever?

No nosso concelho, nas eleições autárquicas de 2013, tivemos uma taxa de abstenção de 55,77% contra 47,4% da abstenção a nível nacional. Mais de metade dos eleitores do concelho não exerceu o direito, e dever, de voto.

Entre 2009 e 2013, a percentagem de eleitores mantém-se relativamente constante, enquanto a percentagem de votantes desce e a de abstenção sobe (Fonte Pordata)

É óbvio que para analisarmos o gráfico acima, temos que ter em conta o enorme fluxo migratório durante este período que levou muitos munícipes a saírem do concelho, e do país, e que há a possibilidade de muitos dos eleitores aqui ainda recenseados não estarem no município durante as eleições autárquicas de 2013. Mas mesmo tendo em conta este factor, a abstenção parece-me grande, até em 2005 e 2009, quando a percentagem de votantes ainda era maior do que a de abstencionistas…

E, para melhor podermos analisar a evolução da abstenção, olhemos para o gráfico abaixo que compara as taxas de abstenção nas eleições autárquicas em Vila Franca de Xira com a taxa de abstenção nas mesmas eleições a nível nacional, entre 1976 e 2013.

Taxa de abstenção entre 1976 e 2013 (Fonte Pordata)

E porquê, pergunto eu. O que levará um povo aparentemente insatisfeito com o poder a abster-se de escolher quem o rege?

Sem querer cair em ideias preconcebidas, interrogo-me se estará relacionado com o fado tão característico do povo português que, por vezes, opta pela lamúria em detrimento do exercício da democracia. Pergunto, não afirmo.

O direito de votar foi adquirido há relativamente pouco tempo, há cerca de uns escassos cinquenta anos ainda não era acessível a toda a gente, como nos contextualizou Maria José Vitorino, mas a abstenção continua a ser o “partido” com maioria ano após ano… Porquê? Volto a perguntar.

Nas legislativas de 2015, a percentagem de votantes a nível nacional foi de 55,86% e, vá, os votantes deste concelho chegaram aos 61,92%, tendo a abstenção ficado pelos 38,08%.

Apesar destes 38,08% de abstenção não chegarem à metade dos eleitores, ainda me parece um número demasiado grande… Será isto o reflexo de um desinteresse geral pela política? Ou apenas de um desinteresse geral? Ou pelo contrário, será uma forma de reprovar todos os agentes políticos?

Numa análise sumária da população votante no concelho, apercebemo-nos que os residentes nas freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz foram os que mais votaram nas autárquicas passadas, chegando quase aos 50% de votantes (49,80%) e aos 64,56% nas legislativas de 2015.

O que quererá isto dizer? Serão os residentes nestas freguesias mais interessados por política e, por isso, mais interventivos? Terão maior consciência do seu direito, e dever, de voto?

Que factores farão com que o número de votantes seja sempre tão próximo de metade do eleitorado? Porque não conseguimos chegar sequer aos 70% de votantes?

Além de um direito, votar é um dever, mas isso não parece influenciar as consciências de muitos eleitores…

Porquê? Porque será que tantos eleitores não sentem a necessidade de intervir na forma que o seu país é administrado, escolhendo os partidos, as pessoas ou os projectos?

É que votar não é só um dever para com a sociedade, mas um dever para connosco próprios que, ao irmos às urnas, estamos a tomar uma posição e a participar na vida política do país, do concelho ou da freguesia. (Lembro que há a possibilidade de se votar em branco, não se optando por nenhum dos candidatos, e que só votando em quem escolhemos ou em ninguém, no caso do voto em branco, é que podemos exercer o nosso direito, e o nosso dever, abrindo caminho para a verdadeira democracia.)

Mas depois não nos poderemos queixar, porque a escolha foi nossa…

Será que é este facto que move, ou paralisa, os abstencionistas e os retém em casa, na praia ou no campo, no dia de eleições?

Será que esta paralisia é apenas para descartar uma responsabilidade que não querem ter e poderem dizer que “não fui eu que os pus lá!”, quando as coisas correrem menos bem?

Espero bem que não. Pela democracia, pelo país, pelo nosso concelho e por todos nós.

Deixo, por ordem alfabética, links para os programas eleitorais de cada um dos partidos candidatos à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira:

(Não foi encontrada qualquer informação sobre o Partido Trabalhista. Deste modo, peço desculpa pela ausência do seu programa eleitoral.)

Esperando que esta informação possa ajudar os mais indecisos e os incentive a ir às urnas no dia 1, nem que seja para votarem em branco, nasce-me a esperança de que, no final, escolhamos o melhor. Em democracia e pela democracia.

Imagem: Pixabay
Fontes: Pordata, Autárquicas 2013,Legislativas 2015

Sofia T

Profissionalmente tem feito imensas coisas, no entanto, aqui só se encontrará a parte civilizada. Lê livros, conta histórias, estuda um pouco de tudo, o que lhe dá a capacidade de ver o mundo numa perspectiva alargada e de aprender depressa. Nunca pára de aprender. Vive numa insaciável busca por conhecimento e pela melhoria das suas aptidões. Gosta de fazer bem, privilegia sempre a competência e segura-a no seu horizonte. Se lhe perguntarem o que gosta mesmo de fazer, dirá que gosta de ler, escrever e de contar histórias. Por isso, escreve coisas em várias vozes. Eleva cada voz a um desafio que leva até ao fim e lhe serve de combustível. Escreve em plataformas Blogger, WordPress, papel ou na areia da praia. Conta histórias em vídeo, áudio, ou texto. E edita-as todas, porque, acredita, é na edição que está a arte. A quem interessar, nos espaços temporais que deixa em aberto, carregou fardos de palha, sacas de ração e carrinhos-de-mão cheios de estrume. Também trabalhou muitos cavalos e deu aulas de equitação, entre tantas outras coisas.

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